A doutrina da predestinação prejudica a mente? - II

Este post é a segunda parte de minha resposta ao artigo publicado por Leandro Quadros sob o título  “Para psiquiatra, doutrina da “dupla predestinação” prejudica a mente”. Se você não leu a primeira parte, é recomendável que o faça agora, antes de prosseguir com a leitura.

2. Resposta literária

O autor declara que “um dos métodos que Satanás usa para destruir a razão é convencer as pessoas a crer em antíteses” que Leandro Quadros define como “oposição de ideias e palavras”. Em sua monumental obra, Bullinger define antítese como “uma figura de linguagem pela qual dois pensamentos, ideias ou frases são colocados um contra o outro, a fim de tornar o contraste mais impressionante e assim enfatizá-lo” (Bullinger, E. W. Figures of speech used in the Bible. London; New York: Eyre & Spottiswoode; E. & J. B. Young & Co). Como figura de linguagem, antítese é uma das figuras mais comuns na Escritura, de forma que uma lista completa fugiria do escopo deste artigo. Provérbios é essencialmente formado por antíteses. A título de exemplo do uso de antíteses, veja as seguintes passagens: Is 1:21; 59:9; 65:13-14; Rm 5:19; 2Co 6:8-10; Fp 3:7,9. 

É impossível crer na Bíblia sem aceitar suas antíteses, reais ou aparentes. Como exemplo de antíteses aparentes, Ele disse que não deveríamos orar como os pagãos, que pensavam que seriam ouvidos por causa de suas muitas palavras (Mt 6:7) e numa outra ocasião Ele disse que seus discípulos deveriam orar com perseverança e não desistir (Lc 18:1-8). Como crentes em Jesus devemos obedece-lo tanto em um quanto em outro ensino, mesmo que isso pareça antitético ou sem sentido (na verdade, faz muito sentido quando se compreende o estilo de pregação do Senhor), nos lembra D. A. Carson. 

E há casos de antíteses reais que devem ser relativizadas. Por exemplo, quando Deus diz que não quer sacrifícios, mas misericórdia, não estava abolindo ali o sistema sacrificial (o que é feito posteriormente). E quando Jesus disse que quem não odiasse pai e mãe não era digno dEle, tampouco estava incentivando o ódio familiar. E quando os apóstolos disseram que importa obedecer a Deus e não aos homens, não estavam prescrevendo a rebelião. Em todos estes casos, a Bíblia está apontando o que é mais importante e qual deve ser nossa posição caso sejamos pressionados a escolher uma delas.

Porém, algumas das antíteses da Bíblia são absolutas, e assim devem ser tomadas. Por exemplo, quando a Bíblia contrapõe bênção e maldição decorrentes da obediência e desobediência, respectivamente, devemos aceitá-las sem atenuar seu sentido. O mesmo quando Paulo lista as obras da carne como antítese do fruto do Espírito. Obedecer as regras de interpretação bíblica, inclusive quanto à identificação de linguagem figurada, nos ajudará a compreender quando se trata de uma antítese aparente, relativa ou absoluta.

Seja como for, sugerir que uma das obras do Diabo é nos levar a crer em ensinos apresentados na forma de antíteses, ou que devemos escolher um ensino em detrimento de outro, é não reconhecer uma das formas preferidas de Deus nos comunicar a verdade nas escrituras. Novamente afirmamos, se não admitirmos antíteses, não podemos crer em grande parte da Bíblia, mesmo sabendo que ao crer nela parece “loucura para os que perecem” (1Co 1:18).

Continua...

Soli Deo Gloria

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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